Reconectar

Há um amigo meu, que já não via há um bom tempo, aconteceu de nos esbarramos por ai. Até que tentamos outros encontros, mas “nem os ocasionais” davam certo.
Infelizmente não conseguimos nos ver antes, em boa parte por causa dessa correria que é a vida e acaba assaltando nosso tempo e energias.

Esse meu amigo já foi meu porto seguro em certa época, confidente de minhas fraquezas, conquistas gloriosas e de desilusões doloridas. E hoje simplesmente não sabia mais como estava minha vida, nada sabia das cambalhotas que sofri e dos perrengues que passei. E também a recíproca era verdadeira.

Fico me perguntando o que nos leva a nos afastarmos dos amigos queridos?

As respostas, acho, são várias, mas uma em particular se me apresenta com destaque, e a tomo como explicação do geral, não desse caso específico: nós não cuidamos de nossas amizades, e a sentença vale também para mim.

Certos da solidez da amizade, relaxamos em sua manutenção, e nesses tempos em que se convencionou que não temos tempo para nada, nos convencemos de que não há mesmo como pararmos um minuto apenas para um “Como vai? Tudo bem? O que tem feito?”, tarefa que é facilitada pela tecnologia.

A situação me desnudou duas grandes balelas:

A primeira é justamente essa, a de que não temos tempo para nada. Temos sim, não somos tão ocupados nem imprescindíveis como imaginamos, nem como essa sociedade de consumo precisa que nos sintamos, que não possamos escrever duas linhas pelo inbox do “feicibuqui” ou uma mensagem direta no “uatizap” se conseguimos tempo para nos ocupamos em postar as fotos do aniversário que aconteceu na familia. Melhor seria uma video-chamada, mas aí é querer demais não é? Ou ainda melhor, fazer uma visitinha surpresa na casa daqueles que tanto dizemos valorizar, mas aí já é pedir ainda mais alto. Que Utopia a minha…😞

A outra balela é pensarmos que não precisamos procurar os amigos para que eles saibam que “estamos aí para o que der e vier”, afinal “nossa amizade está sacramentada pelos anos e pelas barras que já passamos juntos”.

Mas quando pensamos onde falhamos com nossos amigos, auto justificativas povoam nossos pensamentos:
“- Ah, se eu falhei daqui, ele também falhou de lá”
Esse pensamento costuma ser comum dos dois lados.
Ah, Como somos egoístas! Ah, se soubéssemos o quanto este orgulho babaca nos priva de “boas novas experiencias”, do aconchego de um bom amigo ao seu lado…

As vezes o fardo da desconexão é tão grande que desejamos só nos livrar dele e o lançamos para o outro lado:
“- Se você estivesse por perto saberia o que passei…” ou até um, “Sempre estive aqui meu amigo, você que sumiu…”
Mas a verdade é que lançar a culpa para o outro não retira a minha responsabilidade.

Maldito orgulho, malditas desculpas, malditas auto-justificativas. E nesse ínterim o tempo passa, a valeta que nos separa se transforma numa vala que acaba se tornando num vale, e quando nos damos conta, um oceano nos separa.

Mas temos a família para preencher a lacuna de uma amizade enfraquecida…
A família é um porto seguro sim; quando todos nos abandonam, via de regra a família nos acolhe.
Mas porque será que a bíblia cita em Provérbios que “Há um amigo mais chegado que um irmão ” ?
Porque há verdade nisso! Porque o amigo é necessário, porque o amigo é confidente, porque o amigo nós fala a verdade, porque o amigo nos suporta.
É verdade que Jesus é nosso verdadeiro amigo e nunca nos abandona, e como está sempre por perto permite em nosso coração essa angustia, essa saudade dos nossos grandes amigos. Jesus se agrada de nossos relacionamentos horizontais. Por isso que essa necessidade é fomentada em nossos corações. Porque é melhor dois do que um. Melhor caminharmos do que caminhar…

Então tá. O que fazer então?
Reconhecer nosso egoísmo e nos livrar dele.
Despidos da auto piedade, vamos atrás dos nossos afetos, do nosso grande amigo (a), vamos nos reaproximar, reconstruir, erguer pontes para atravessar o oceano e reatar o que nunca deveria ter sido desatado.

Ainda que o outro lado nao tenha compreendido nada disso, insista, demonstre, ame, invista, se importe.

Mas saiba, a ausência constrói desafeto, ressentimento, mágoa, tristeza, e por fim, indiferença (a pior, último estagio).
Portanto, nada “re-acontece” sem o perdão. Perdoe, sem justificativas, sem cobrança, sem desenterrar defuntos, apenas perdoe. Talvez descubramos em nossos amigos ainda mais debilidades das que já sabíamos, mas e dai? Nós também colecionamos algumas mais!
Mas deixe o poder curador do abraço fazer o seu papel.

Porque é a mais pura verdade: ” Há um amigo mais chegado que um irmão”

Reflita sobre isso. E se um nome lhe veio à mente após essa leitura, não exite nem por um instante, ligue agora mesmo pra ele (a), será maravilhoso.